NOVA ESPÉCIE DO GÊNERO Melanophryniscus GALLARDO, 1961 DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL, BRASIL (ANURA, BRACHYCEPHALIDAE).
Author
Braun, Pedro Canisio
text
IHERINGIA Zoologia
1973
1973-11-05
44
3
13
journal article
275778
http://doi.org/10.5281/zenodo.10084412
3b52a514-2f47-43ce-8a77-4a7d3b80a4f9
10084412
Melanophryniscus macrogranulosus
n. sp.
Morfologia:
Corpo
alongado, com membros robustos.
Cabeça
pouco mais comprida que larga. Tanto o comprimento como
a
largura da cabeça podendo ser contidos cerca de três vezes e meia no comprimento total do corpo. Espaço interorbital relativamente grande, sendo maior que a soma da distância do olho à narina mais o diâmetro ocular. O espaço interorbital corresponde ainda de duas
a
três vezes a largura da pálpebra superior e é maior que o dobro da distância intemarinas. Focinho tendendo
a
ovalado, tímpano invisível e paratóides ausentes. Espaço intemarinas sensivelmente maior que a distância delas à ponta do focinho. Olhos grandes com pupiias ovais e horizontais. Diâmetro ocular, aproximadamente igual à distância olhonarina e bem maior que a distância da narina à ponta do focinho. Língua alongada e estreita, livre em quase toda a extensão posterior. Tumefação frontal, acima do focinho, grandemente desenvolvida, com largura
e
comprimento quase equivalentes, começando antes das pálpebras e indo até o próximo à linha que une os bordos posteriores das mesmas.
A
tumefação
é
contínua, podendo apresentar um leve vestígio de estrangulamento central e apresentase completamente lisa, sem nenhuma verruga ou espinho. Vista de perfil, a tumefação é mais alta que a linha posterior da cabeça e que as pálpebras superiores. Estas, apresentando granulações semelhantes às existentes no dorso.
Mãos
dotadas de dedos bem desenvolvidos, com extremidades salientes
e
não palmados. Primeiro dedo pouca coisa mais curto que o segundo, sendo ambos menores que o terceiro e quarto dedos. Terceiro dedo maior de todos e o quarto atinge dois terços (2/3) do seu tamanho. O tubérculo metacarpal é muito grande
e
aproximadamente circular. O metacarpal interno é bem mais reduzido e ovalado. Os tubérculos subarticulares são escassos e grandes enquanto os palmares são grandes e numerosos. Pés com dedos bem desenvolvidos e extremidades salientes. Primeiro dedo ligeiramente menor que o segundo, sendo ambos bem menores que os terceiro, quarto e quinto dedos. Terceiro e quinto dedos aproximadamente iguais entre si. O quarto dedo é o maior de todos e o quinto alcança dois terços (2/ 3) do seu tamanho. Membrana palmar presente, alcançando quase a última falange dos dedos 1, 2, 3 e 5
e
a metade do dedo 4. Tubérculo metatarsal interno, de forma oval
e
maior que o externo que é aproximadamente circular. Tubérculos subarticulares relativamente grandes e tubérculos palmares pequenos e escassos. Calcanhar não alcançando a parte posterior da mandíbula, chegando apenas um pouco adiante da axila. Quando os membros posteriores são colocados em posição perpendicular ao tronco, as articulações tíbiotarsais se cruzam.
Aspectos da pele e coloração:
A
pele dorsal se apresenta com aspecto liso e brilhante, notandose em toda a sua extensão a presença de enormes glândulas terminadas em espinhos cónicos e de consistência córnea, que podem ou não estar bem visíveis. As glândulas são facilmente deformáveis sob pressão e chamam a atenção pelo seu avantajado porte. Essas glândulas estão distribuídas em número apreciável no dorso formando uma sequência mais ou menos ordenada. Assim, iniciando na parte posterior de cada olho, notase uma fileira de glândulas que se dirigem para trás, quase em linha reta, atingindo a virilha. Uma outra fileira tem início na parte posterior de cada pálpebra, clirigindose paralelas uma à outra até a altura do ânus, onde se unem. Finalmente, no centro do dorso, partindo da linha posterior da tumefação, há uma quinta fileira, muito menos característica que as anteriores, que se dirige para trás e só atinge a metade do corpo.
A
face dorsal dos membros anteriores e posteriores, com exceção das mãos e dos pés, apresentam inúmeras glândulas, que são grandes e agrupadas. As mãos e es pés são praticamente lisos, notandose sobre os dedos uma série de pequenos espinhos. Na, comissura bucal existe um aglomerado de glândulas de porte avantajado. Região lateral do corpo apresentando glândulas semelhantes; às existentes no dorso.
A
pele
ventral
é formada por uma granulação bastante uniforme, apresentando numerosas glândulas espalhadas de modo desordenado, menores que as dorsais mas com espinhos apicais bem mais visíveis. Na região do queixo e na parte inferior do arco da mandíbula, existe uma grande concentração dessas glândulas. Região abdominal e face ventral das coxas, com glândulas dispersas e pequenas. Face ventral da tíbia, antebraço'
e
braço, praticamente lisos. Palma da mão e planta do pé, apresentando tubérculos de grande porte.
A
coloração é quase negra, uniformemente distribuída no dorso e face dorsal dos membros anteriores e posteriores. Regiões guiar e peitoral, pretas. Quase todo o abdómen e face ventral das coxas, de cor vermelha. Face ventral do antebraço, até um pouco adiante do cotovelo, bem como as palmas das mãos e plantas dos pés, vermelhos. Eventualmente podem ter pequenas manchas vermelhas na região guiar. As glândulas da região ventral apresentam coloração vermelha, principalmente as que ficam próximas à grande mancha vermelha do abdómen.
Os dados de coloração foram tomados ao vivo, sendo que no líquido conservador ela sofreu alteração.
A
coloração dorsal tornouse cinzenta quase negra e as partes vermelhas da região ventral, inclusive palmas das mãos e plantas dos pés, tornaramse amareladas.
A
coloração das glândulas da região ventral situadas próxims da grande mancha vermelha do abdómen e que também eram dessa cor, tornaramse amareladas.
Variações:
Examinando os
parátipos
da nova espécie, observamos algumas pequenas variações. Assim o diâmetro ocular pode
se
apresentar um pouco maior ou um pouco menor que a distância do olho à narina, embora seja quase sempre igual. O espaço interorbital pode variar de duas a três vezes a largura da pálpebra superior.
A
tumefação, vista de perfil, pode alcançar apenas a mesma altura que a linha posterior da cabeça e que as pálpebras superiores. Com base nos exemplares examinados constatamos que as fêmeas são nitidamente maiores que os machos.
MATERIAL
EXAMINADO
Foram examinados nove exemplares procedentes do Estado do
Rio Grande do Sul
(RS),
Brasil
, que estão depositados no Museu RioGrandense de Ciências Naturais (MRCN).
Holótipo
:
Torres
,
RS
,
fêmea
adulta, 30 de outubro de 1960, col.
Thales de Lema
,
MRCN 01694
.
Parátipos
:
Torres
,
RS
,
fêmea adulta
, 30 de outubro de 1960, col.
Thales de Lema
,
MRCN 01693
.
Torres
,
RS
, machos adultos, 30 de outubro de 1960, co.l.
Thales de Lema
,
MRCN 01695
,
MRCN 01696
,
MRCN 01697
,
MRCN 01698
,
MRCN 01699
,
MRCN 01701
e
MRCN 01702
.
Localidade tipo: TORRES, RS,
BRASIL
DISCUSSÃO
Melanophryniscus macrogranulosus
n. sp.
pode ser comparada com
Melanophryniscus tumifrons
(BOULENGER)
e
com
Melanophryniscus devincenzii
KLAPPENBACH
devido à possuir uma característica tumefação frontal. No entanto as diferenças que ela apresenta em relação à ambas, são de tal monta que não deixam margem à confusões. Assim, se diferencia facilmente pelo seu tamanho, que é maior que
M
.
tumifrons
e muito maior ainda que
M
. devincenzii
.
A
nova espécie tem coloração bem mais escura que
M
.
devincenzii
e não chega a ser tão negra como
M
.
tumifrons
.
A
nova espécie apresenta a pele dorsal e dos membros com aspecto liso, dotada de enormes glândulas cónicas enquanto
M
.
tumifrons
possui o dorso e extremidades total e densamente cobertas por fortes verrugas, que lhe dão um aspecto inconfundível. Já
M
.
devincenzii
possui poucas e débeis formações verrucosas, que tendem a agruparse. Na comissura bucal de
M
.
devincenzii
existem poucas
e
pequenas verrugas, enquanto em
M
.
tumifrons
há verrugas maiores e numerosas e em
M
.
macrogranulosus
há enormes formações glandulares. A tumefação frontal, que em
M
.
devincenzii
é reduzida, atingindo uma linha que passa pelo quarto anterior das pálpebras, em
M
.
tumifrons
é
maior, atingindo uma linha que passa mais ou menos na altura da metade das pálpebras e em
M
.
macrogranulosus
é bem maior, atingindo quase
a
linha que une os bordos posteriores das mesmas. Aiém disso a tumefação frontal, que
é
nitidamente repartida em
M
.
tumifrons
, é menos dividida em
M
.
devincenzii
e completamente lisa na nova espécie. As formações glandulares do dorso de
Melanophryniscus devincenzii
apresentam dois
e
às vezes três espinhos cónicos de aspecto córneo, rodeados por grande quantidade de espinhos similares e muito pequenos, principalmente sobre as pálpebras e por detrás da tumefação. O mesmo não ocorre em
M
.
macrogranulosus
, onde as ditas formações dorsais apresentam apenas um espinho, quase invisível.
A
tumefação frontal da nova espécie, vista de perfil,
se
acha em nível mais alto em relação à linha posterior da cabeça e das pálpebras, que em
M
.
tumifrons
e
M
.
devincenzii
, respectivamente. As verrugas ventrais, que em
M
.
devincenzii
são débeis e escassas e em
M
.
tumifrons
são pouco maiores e densas, na nova espécie são bastante desenvolvidas, com tamanhos variados e numerosos. Enquanto
M
.
tumifrons
apresenta na região do queixo
e
guiar, três manchas amareladas,
M
.
devincenzii
é de cor uniformemente negra e
M
.
macrogranulosus
apresenta essa região de um modo geral com coloração uniforme, eventualmente com pequenas manchas vermelhas e com grande concentração de verrugas acompanhando o contorno do arco da mandíbula. Outra diferença é que o lado do focinho de
M
.
tumifrons
é
amarelado, o de
M
.
devincenzii
apresenta uma faixa clara entre o olho a narina e o bordo inferior
e
o de
M
.
macrogranulosus
apresenta coloração quase negra, uniforme.