Thyreocoridae
Author
Jocelia Grazia
Departamento de Zoologia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Av. Bento Gonçalves 9.500, 91501 - 970 Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil.
jocelia@ufrgs.br
Author
Viviana C. Matesco
Departamento de Zoologia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Av. Bento Gonçalves 9.500, 91501 - 970 Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil.
vimatesco@yahoo.com.br
Author
Cristiano F. Schwertner
Departamento de Ciências Biológicas, Universidade Federal de São Paulo, Campus Diadema, Rua Prof. Artur Riedel 275, Diadema, SP, Brasil.
schwertner@unifesp.br
text
2014
Universidad Nacional de Tucumán
San Miguel de Tucumán, Argentina
Biodiversidad de Artrópodos Argentinos, vol. 3
417
420
book chapter
9788
10.5281/zenodo.4056220
37a32491-5eb4-40d5-b43e-54eda87e33e0
4056220
THYREOCORIDAE
De pequenos a médios, estes percevejos têm coloração escura, com escutelo desenvolvido, convexo, recobrindo a maior parte da asa anterior, esta com exocório geral - mente amarelado (
Fig. 1
). Tratados por alguns autores como subfamília de
Cydnidae
, os percevejos-negros, como são conhecidos vulgarmente, reúnem mais de 200 espécies em nove gêneros no hemisfério ocidental (
Corimelaeninae
) e três no hemisfério oriental (
Thyreocorinae
) (
Schuh & Slater, 1995
;
Lis, 2006
).
Gapud (1991)
sustentou a relação de
Thyreocorinae
(=
Corimelaeninae
) com
Cydnidae
pela presença de franjas coxais eespinhos nas tíbias. Em
Grazia
et al
. (2008)
é sugerida a relação de parentesco entre
Corimelaeninae
e
Parastrachiinae
(tratada até então como subfamília de
Cydnidae
); esta relação é sustentada pelos dois caracteres mencionados anteriormente (
Gapud, 1991
), além dos ângulos umeraise posteriores do pronoto não serem desenvolvidos. Chaves para gêneros, subgêneros e espécies em
McAtee & Malloch (1933)
. Outras contribuições para o estudo da família na Argentina em
Pennington (1920)
,
Kormilev (1956
a
, 1956b) e
Carpintero & De Biase (2011)
. Ogênero
Galgupha
Amyot & Serville
é o mais diverso, com 15 subgêneros e 155 espécies. A
Tabela Iapresenta
o número de gêneros e espécies das subfamílias de
Thyreocoridae
conhecidas para o mundo, região Neotropical e Argentina.
Fig. 1.
Galgupha corvina
Horvath
(adulto).
Tabela I.
Número de gêneros e espécies das subfamílias de
Thyreocoridae (Hemiptera)
conhecidas para o mundo, região Neotropical e Argentina.
Mundo |
Neotrópico |
Argentina |
Gen |
spp |
Gen |
spp |
Gen |
spp |
Thyreocoridae
|
12
|
212
|
9
|
158
|
3
|
61
|
Corimelaeninae
|
9 |
205 |
9 |
158 |
3 |
61 |
Thyreocorinae
|
3 |
7 |
0 |
0 |
0 |
0 |
Na Argentina foram registrados os gêneros
Corimelaena
White
(uma espécie),
Galgupha
(56 espécies) e
Pericrepis
Horvath
(quatro espécies). Além destas, outras seis espécies foram descritas ou mencionadas para a Argentina:
Thyreocoris schmidtii
Fabricius
,
Thyreocoris flavo-bisignatus
Berg
,
Thyreocoris pampeanus
Berg
,
Thyreocoris xanthopus
Berg
,
Thyreocoris xanthocnemis
Berg
e
Thyreocoris borellii
Montandon. Porém
, na revisão da família,
McAtee & Malloch (1933)
comentaram que os tipos de
T. flavo-bisignatus
,
T. pampeanus
e
T. xanthopus
teriam sido destruídos, enquanto que as outras três espécies não puderam ser reconhecidas a partir do material analisado. Éimportante registrar também que o gênero
Thyreocoris
Schrank
não ocorre na região Neotropical (
Lis, 2006
;
Grazia
et al
., 2008
). Desta forma, estas espécies são aqui tratadas como
incertae sedis
. Arevisão e análise cladística dentro da família encontram-se em preparação.
Características gerais
Tamanho variando de 3 a 8 mm, corpo oval-alongado, dorsalmente convexo e ventralmente plano. Coloração escura (castanha ou negra), geralmente brilhante. Cabeça declivente, subtriangular em vista dorsal. Antenas com cinco artículos. Escutelo fortemente convexo, amplo, recobrindo grande parte das asas anteriores. Hemiélitro com cório reduzido, algumas espécies com a parte visível do cório de coloração clara (amarelo ou creme). Nas espécies da subfamília
Corimelaeninae
, asa posterior com lobo jugal perfurado. Tíbias com cerdas e numerosos espinhos em toda extensão, tarsos trímeros.
Imaturos
Os trabalhos de
Southwood (1956)
e
Cobben (1968)
apresentam e discutem características dos ovos de duas espécies de
Thyreocoridae
:
Corimelaena
sp. e
Thyreocoris scarabaeoides
Linnaeus, respectivamente. Além dessas informações, pelo menos cinco espécies neárticas da subfamília
Corimelaeninae
têm seus imaturos descritos detalhadamente (
McPherson, 1972
;
Biehler & McPherson, 1982
;
Lung & Goeden, 1982
;
Bundy & McPherson, 1997
,
2009
). Dentre as espécies argentinas, duas tiveram seus ovos descritos (
Matesco
et al.
, 2012
). Os ovos são alongados, com ambos os pólos igualmente arredondados. Cório fino, aparentemente liso, podendo apresentar rugas quando observados em microscopia eletrônica de varredura (
Bundy & McPherson, 1997
,
2009
). Acoloração inicial é branca, tornado-se avermelhada ou escurecida com o desenvolvimento do embrião, sendo possível observar as estruturas através do cório. Processos aeromicropilares pedunculados e curvados para o centro, localizados em torno do pólo apical; dependendo da espécie, ocorrem de 4 a 10 processos aeromicropilares, com diferenças no tamanho do pedúnculo. Opérculo ausente, linha de ruptura do ovo é irregular e ocorre transversalmente, iniciando no pólo apical e se estendendo lateralmente.
Bundy & McPherson (2009)
descrevem o
ruptor ovis
de
Corimelaena incognita
McAtee & Malloch
como sendo rombóide, com um pequeno processo mediano;
Southwood (1956)
e
Cobben (1968)
citam essa estrutura como reduzida em ambas subfamílias.
As ninfas têm a forma do corpo e da cabeça semelhante aos adultos; nas demais características se assemelham às ninfas de outras famílias de
Pentatomoidea
(ver
Grazia & Schwertner, 2008
). Coloração da maior parte do corpo é escura (negra ou castanha); a coloração do abdome varia de acordo com a espécie, podendo ser amarelado ou avermelhado, mas sempre com pontuações mais escuras. Outras características das ninfas de
Thyreocoridae
incluem: corpo fortemente convexo, com pontuações uniformemente distribuídas; espinhos tibiais presentes; placas dorsais medianas presentes em todos os segmentos abdominais, formando estruturas pareadas no primeiro e segundo segmentos; aberturas das glândulas odoríferas presentes entre os segmentos 3/4, 4/5 e 5/6, pareadas e alinhadas; placas laterais subquadrangulares. Outras duas características são peculiares e parecem ser exclusivas para as ninfas de
Thyreocoridae
: no primeiro, segundo e terceiro instares, o metanoto nunca está completamente fusionado, e no quinto instar, as margens posterior e anterior das placas abdominais dorsais doquarto equinto segmentos, respectivamente, são contíguas.
Biologia
Espécies exclusivamente fitófagas, geralmente associa- das a arbustos, se alimentando e vivendo principalmente nas partes reprodutivas das plantas hospedeiras (flores e frutos em desenvolvimento ou maduros).
McPherson (1971
,
1972
) registra a preferência de
Corimelaena lateralis
(Fabricius)
por plantas maduras de
Daucus carota
Linnaeus (Apiaceae)
, mesmo tendo a possibilidade de utilizar plantas da mesma espécie com inflorescências.
Corimelaena pulicaria
(Germar)
não apresenta esse tipo de preferência (
McPherson, 1972
).
Uma mesma espécie pode ser registrada em diferentes plantas hospedeiras, de até 10 diferentes famílias de plantas. No entanto, todas as espécies estudadas utilizaram durante seu ciclo de vida, em determinada área, apenas uma (
Biehler & McPherson, 1982
) ou duas (
Bundy & McPherson, 1997
) plantas como sítios preferenciais de alimentação, cópula e oviposição. Das espécies conhecidas para a Argentina,
Galgupha
(
Acrotmetus
)
schulzii
Fabricius
foi registrada em
Spermacoce verticillata
(Rubiaceae)
e
Solanum tuberosum
(Solanaceae)
;
Galgupha
(
Gyrocnemis
)
cruralis
Stål
em
Citrus
sp. (
Rutaceae
),
Ilexparaguariensis
(Aquifoliaceae)
,
Oryza sativa
(Poaceae)
,
Solanum tuberosum
(Solanaceae)
,
Sorghum bicolor
(Poaceae)
e
Zea mays
(Poaceae)
;
Galgupha
(
Microcompsus
)
vinculata
Germar
em
Spermacoce verticillata
(Rubiaceae)
(
Callan, 1948
;
Bertels, 1962
;
Bertels & Baucke, 1966
;
Quintanilla
et al.
, 1976
,
1981
).
Todos os estudos sobre tireocorídeos em condições de campo ocorreram no hemisfério norte (EUA); o ciclo de vida das espécies corresponde, de uma maneira geral, àquele descrito para
Pentatomidae (
Grazia & Schwertner, 2008
)
. As espécies podem ser uni-, bi- ou multivoltinas: um maior número de gerações por ano ocorre em baixas latitudes, enquanto que em latitudes mais altas apenas uma geração é possível (
McPherson, 1972
;
Lung & Goeden, 1982
;
Bundy & McPherson, 1997
,
2009
). Todas as espécies apresentaram período de dormência no estágio adulto; durante esse período são encontradas sob folhiço, solo ou mesmo rochas.
Os adultos deixam os sítios de dormência após o final do inverno ou início da primavera, se deslocam para as plantas hospedeiras e começam a se alimentar. Comportamento de pré-cópula foi descrito por
Bundy & McPherson (1997)
: o macho se posiciona atrás da fêmea e inicia o contato por antenamento; após aceitação da fêmea, a cópula ocorre com os indivíduos posicionados em direções opostas, apenas as genitálias se tocando. Acópula pode durar horas.
Os ovos são colocados individualmente e fixados lateral- mente ao substrato, geralmente partes reprodutivas da hospedeira, menos frequentemente, ramos ou folhas. Otempo de desenvolvimento do ovo varia entre 8-11 dias, dependendo da espécie e também da temperatura e umidade. Ninfas de primeiro instar são ativas; diferentemente das ninfas de outras famílias de
Pentatomoidea
, se alimentam e não têm comportamento gregário. Tempo de desenvolvimento das ninfas variade 30-45 dias, provavelmente influenciado pelo alimento utilizado e também pelas condições de temperatura e umidade local. Parasitóides de ovos das famílias
Tachinidae (Diptera)
e
Scelionidae (Hymenoptera)
são os principais inimigos naturais registrados.
Importância econômica
Apesar de várias espécies de tireocorídeos serem registradas sobre plantas cultivadas, não existem registros de danos por esses percevejos (
Lis
et al.
, 2000
).
Schuh & Slater (1995)
citam espécies da subfamília
Corimelaeninae
como pragas secundárias de hortas e flores de jardins, mas não apresentam maiores detalhes sobre essa informação.